RELAÇÃO TENSA ENTRE O REAL E O ESPIRITUAL
Tudo o que foi e falado a respeito do sagrado tem de ser repassado sob o prisma que fora levantado pelo bacharelando Evandro Rodrigues, que nos fez pensar nos paradigmas e pilastras que influenciam nossa fé, sociedade, e a forma como encaramos a vida.
Tudo começou com os Persas, que tinham em sua religião, uma dicotomia, ou seja, uma separação de bem e mal, tendo uma divisão quase (senão de igual força) onde o campo de batalha é o mundo e os seres humanos peões nesse tabuleiro.
Esse forte tema do céu/inferno, bom/mal, nós herdamos dos hebreus que por sua vez herdaram diretamente da religião de Ciro e Dario...
Logo após a queda dos persas, vieram os gregos... e com eles os gnósticos....
Gnose (do grego conhecimento) possuía pontos em comum o cristianismo como a idéia da salvação de uma divindade suprema.
Foi com os gregos que nasceu a teoria da carne ruim e o corpo como prisão da alma, defendida por Platão que era discípulo de Sócrates.
A mistura do pensamento neoplatônico, com a conversão de Agostinho de Hipona, surgiu à busca pela santificação.
Para Agostinho Deus não é criador do mal, e o mal é a ausência do bem.
O que chamamos de “metafísico”, ou o espiritual, toma conta de nossa mente, nos fazendo divagar entre os dois mundos, que nos faz rejeitar a carne e ansiar pelo espiritual.
Toda essa concepção nos faz lutar numa briga constante onde temos de ser vencedores sempre numa louca batalha entre o bem e mal onde uma pergunta se faz necessária:
“Por que vencer senão estou competindo???”
Essa dicotomia nos faz esquecer de alguns pontos importantes do cristianismo:
1. Jesus nos salvou.
João 6;37 nos dá a certeza que JAMAIS Jesus nos lançará fora, ou seja, não perdemos a salvação pelo pecado ou por qualquer causa.
2. O diabo foi vencido.
A não ser que creiamos que a obra da cruz foi incompleta, quando Jesus ressuscitou, venceu de uma vez por todas o diabo e a morte
3. Vida na terra.
Nosso compromisso com a missão é aqui e agora, Cristo nos impele à uma vida de justiça, onde nos importamos e lutamos pelo bem estar de todos, não só os da fé, a não ser que você responda quem é o próximo de quem Jesus falou.
FILOSOFIA
É engraçado como uma discussão tão básico afeta a nossa fé e principalmente as nossas comunidades de fé.
Desde o século 19 e os fundamentalistas, que combatiam os liberais que essa guerra entre a razão e a emoção ganhou contornos mais dramáticos, apesar de ela sempre existir no meio da igreja.
Tertuliano era da turma que odiava a filosofia e partia pra guerra contra a razão enquanto os apologistas gregos, como taciano, por exemplo, que lutava contra o que os gregos chamavam de loucura a divindade ter contato com a carne podre e má(encarnação de Jesus)
O triste é vermos nossa amada igreja lutando contra a filosofia e o conhecimento teológico, tão arraigada nos milagres e nas bênçãos que não percebem que o verdadeiro propósito de a igreja existir é justamente o contrario: ser ela uma benção....
Mateus 19;16 a 30 nos prova que quem quer riquezas, já tem a sua consolação.
O que falta em nossa comunidade é tremor de Deus, o que Rudolf Otto chama de “mysterium tremendum” falta o medo da divindade, não só o temor reverencial, mas o medo mesmo de irmos para o inferno, toda a relação numinosa causava grande medo nas pessoas do passado, medo esse que foi substituído por uma arrogância na certeza de que vamos para o céu, invertendo os papeis entre criatura e Criador